Entre Direito e Literatura: Caminhos Outros

Organizadora:
Luísa Consentino de Araújo

Autores:
André Luiz Freitas Dias
Dayler William Souza Lopes Barbosa
Fernando Antônio de Mélo
Gabriella Sabatini Oliveira Dutra
João Lucas Sales Prates
Luciana da Silva C. Gonçalves
Luciana Pimenta
Luisa Guimarães Matheus
Maria Fernanda Salcedo Repolês
Maria Helena Benarrós Kai
Maria Theresa Ianni

Passemos ao corpo. Passamos sempre pelo. O corpo que é uma estrada que margeia, que é composta de vários acostamentos, um espaço feito para se andar descalço ouvindo as palavras que não foram ditas, o som do próprio grito da escuta da subjetividade que perpetrou e que é tão urgente. Um desejo puro, que nos atravessa e pelo qual somos atravessados. O desejo que mesmo que latente não faz milagres, mas sempre nos leva a ir além, desfrutar dimensões incógnitas, nos permite transgredir, sair das rotinas e do padrão, nos torna aptos a recusar o raso e o superficial de nossas vidas. Porque o viver carece de uma certa porção de assombro, de uma ânsia, de uma pulsão. O que este texto propõe é o movimento, sejamos buscadores natos, pessoas sensíveis ao que é o corpo na sua concepção inaugural e natural, um corpo que é habitado por um gozo incômodo, que resiste aos pensamentos e aos ideais. Um corpo que é o que escapa e o que não passa pelas palavras, que é uma experiência perturbadora, mas que povoa os afetos, gerando e permitindo afetações. Proscrevemos a condição de ser permanente e estruturalmente segregado, hierarquizado e rotulado. Uma abordagem que leva em conta, e que tem como relevante a transferência, a possibilidade do vínculo que rompe todos os vínculos. Um ato, uma ação, uma prece que repete e conclama que não percamos a capacidade de visualizar a singularidade de cada ato de uma vida que é sempre e tanto única. Somos (uni)(Verso), regência e referência incontornável. Organismos vivos em total devoção ao que alguns chamariam de cantua: ponto especial de linhas que se cruzam e criam espacialidade, a expressão autoral e individual de nossas emoções, a visão do topo de quem contempla e ad(mira) uma paisagem. Encruzilhadas e que envolvem o Ser, sentir, pensar, existir a totalidade do que temos como direitos e literatura humana, a dignidade de adotar posicionamentos éticos e não estéticos. O eco de ser mesmo num mundo em decomposição, repleto de injustiças, encontrar uma forma de sempre apostar na vida.

Aline Venutto