M. Heidegger e a Manualidade-do-mundo (Zuhandenheit): uma leitura do esquecimento do ser na era da técnica

Autor:
Jayme Camargo Da Silva

A presente obra tratará do problema filosófico do conhecimento. Inicialmente, abordará como se dá o acesso às nossas vivências no cotidiano. Em um segundo momento, discutirá os efeitos da “técnica” (tecnologia) no processo de conhecimento envolvido nestas vivências. Tematizará a relação “acesso às vivências – Técnica”, a partir do “manuseio” da nossa existência neste processo. Para tal objetivo, utilizará como matriz teórica o pensamento do filósofo alemão Martin Heidegger. Em sendo um trabalho de filosofia, estabelecer a Fenomenologia Hermenêutica como paradigma significa definir o método de trabalho. Identificamos a temática, assim, com o desenvolvimento da filosofia heideggeriana. Heidegger investigou, nas “primeiras lições” até “Ser e Tempo” (1927), o modo como o ser humano conhece originariamente o fenômeno de suas vivências. O horizonte destes escritos é dar um passo atrás na relação “sujeito-objeto” como relação fundadora do conhecimento. O ponto culminante destes desenvolvimentos conceituais é a “manualidade-do-mundo” (Zuhandenheit) em “Ser e Tempo”. Esta noção demonstra que no âmbito “ateorético” originário (não mediado cognitivamente pela consciência), por meio da característica de nossa existência de “ser-em”, não há separação entre sujeito e objeto. No referido contexto, é bem verdade, não há que se falar em “sujeito” e “objeto”. Heidegger está trabalhando com o termo alemão Dasein para descrever a existência humana nas vivências da vida. Um objeto predicável qualquer, antes de ser sujeito ou objeto de uma predicação é um ente à mão do Dasein. Isso revela que o Dasein usa instrumentos históricos ao vivenciar as ocupações da época histórica em que existe. Assim, como ganho de “Ser e Tempo”, o filósofo elaborou a temporalidade (Zeitlichkeit) como o sentido do ser. A virada no seu pensamento manifestou como tarefa a investigação da temporalidade como abertura do ser em geral. Há um abandono do ser como conceito transcendental – mesmo enquanto manual do Dasein – para se perscrutar o tempo como abertura histórica de época. Heidegger passa a re-interpretar a história do ocidente a partir da abertura de época que cada princípio metafísico constituiu. Segundo Heidegger, “Ideias” (Platão), “substância” (Aristóteles), “cogito” (Descartes), “eu transcendental” (Kant) e “vontade de poder” (Nietzsche) são os princípios que determinaram o acesso à realidade em cada época da história do ocidente. Com a vontade de poder nietzscheana, o homem chega à “técnica moderna”. Ela constitui-se como o princípio de acesso ao conhecimento da “realidade”. Esta obra demonstrará o fenômeno da “tecnificação das mãos” como consequência da era da Técnica no modo de acesso originário ao conhecimento.